REVIEW | O último dia de um condenado


Título Original: O último dia de um condenado
Autor: Victor Hugo
Editora: Prefácio
Data: 2002
Páginas: 160
ISBN9789898231130
Classificação Pessoal: 
Goodreadsaqui
Temáticas: Consciência, liberdade, justiça


Sabem há quanto tempo tenho este livro na minha estante? Há anos... já estava farta de lhe limpar o pó. Por isso, resolvi pegar-lhe...

Primeiro livro que li do Victor Hugo e... estou rendida! Que clássico tão delicioso de se ler... tão forte, tão cru e, por vezes, tão tocante.


Tal como o próprio título nos indica, esta é a história das últimas horas de um condenado à morte; um homem que afirma ter uma doença, "uma doença mortal, uma doença feita pela mão dos homens" (pág. 45). Regista, por isso, os seus pensamentos e a sua vivência na prisão, até ao dia da sua execução. Tal como o autor indica, este livro "não é mais do que uma defesa, directa ou indirecta, como se quiser, da causa da abolição da pena de morte" (pág. 141).

(...) os homens são todos condenados à morte 
com adiamento indefinido. 
Que foi então que mudou assim tanto na minha condição?
(pág. 13)

Fechado dentro de quatro paredes, afirma que "tudo é prisão à minha roda; encontro prisão sob todas as formas, tanto sob a forma humana como sob a forma de grade ou de ferrolho. Este muro é a prisão em pedra; esta porta é a prisão em madeira; estes carcereiros são a prisão em carne e osso. A prisão é uma espécie de ser horrível, completo, indivisível, meio casa, meio homem" (pág. 57).


Dentro dessa prisão, o condenado apercebeu-se que o tratamento que anteriormente fora de alguma aspereza, acabou por se ir modificando com o passar dos dias, até que consegue descobrir o dia da sua execução pelo comportamento dos que o rodeiam... o dia em que o director da prisão em pessoa o visita e pergunta "em que poderia ser-me agradável ou útil" (pág. 55). Seguindo-se a visita do padre, para lhe dar uma última benção:

-Meu filho - disse-me ele -, estais preparado?
Respondi-lhe em voz fraca:
- Não estou preparado, mas estou pronto.
(pág. 59)

Gostei desta ironia que o autor conseguiu transmitir, não só através das suas palavras, mas também das acções destas personagens, conforme o dia da execução ia chegando. Como se, de alguma forma, elas se sentissem culpadas e benevolentes com o condenado e, de certa forma, até com peso na consciência, pela acusação. Para além do padre e do director da prisão, há um arquitecto que vai medir as paredes, para uma remodelação e que informa - como se isso fosse interessar a uma pessoa que vai ser decapitada em poucas horas - que "dentro de seis meses esta prisão estará muito melhor" (pág. 89) e um novo guarda que acredita que "os mortos que perecem assim vêem a lotaria antecipadamente" (pág. 92). 



E no meio disto tudo, sabermos que bastaria apenas uma única palavra do rei para que esta execução fosse cancelada, sentimo-nos arrebatados por um sentimento de compaixão pelo protagonista. O sentimento mantém-se quando este homem nos fala da sua filha Maria que já não via há um ano e que, aquando da sua visita ao calabouço, ela já não mais reconhece o pai. A dor é partilhada com a personagem e é esmagada pela descrição deste episódio.


E eis que chega o momento tão esperado. Num ambiente descrito quase como uma festa, inúmeros habitantes deslocam-se ao local público da execução, prontos para o espetáculo. Mas nem aí o autor se priva da sua ironia:

"(...) o arrepio causado pelo aço ao tocar-me o pescoço, 
fizeram estremecer os meus cotovelos e obrigaram-me 
a soltar um urro abafado. A mão do executor tremeu.
- Senhor - disse-me ele -, peço-lhe desculpa! Magoei-o?
Estes carrascos são mesmo homens muito afáveis."
(pág. 132) 


Um livro escrito de uma forma brilhante e simples, que nos faz reflectir sobre a justiça e a crueldade do acto da pena de morte, assim como o papel da sociedade no meio disto tudo.

"Mas, há quem replique que é necessário que a sociedade se vingue, 
que a sociedade castigue. 
Nem uma coisa nem outra. A vingança sabe ao 
indivíduo, o castigo a Deus.
A sociedade está entre ambos. A punição está acima dela, 
a vingança abaixo. Nada de tão grande ou de tão 
pequeno lhe assenta bem. Ela não deve "punir para se vingar"; 
deve corrigir para melhorar".
(pág. 153).


Um livro que toda a gente devia ler!

Cinco estrelas... gordinhas!

Comentários

  1. Olá Mary,
    Também tenho muitos livros aqui em casa há anos que ainda não li. POr vezes temos mesmo que por de lado "as novidades" e ler os que já temos. Por vezes temos preciosidades e ainda não as conhecemos, porque simplesmente vão ficando para trás :)
    Ainda bem que gostaste.
    Beijinhos e boas leituras

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    Respostas
    1. Pufff tens toda a razão.. vamos pondo livros sempre à frente e nem reparamos que há relíquias que ficam perdidas nas nossas estantes... vamos lá ver se resolvo isso em 2017!!
      Beijinhos!

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